A minha liberdade condicional
Eu não sabia, mas cometi um crime: estou doente. Desenvolvi uma tendinite no ombro direito que me tem dado muito que fazer! Depois de meses a tentar conciliar as aulas com os tratamentos, a correr para não deixar nada para trás, a dormir mal com as dores e com a ansiedade, a minha médica disse: Basta! E pôs-me de baixa. Veredito: braço em repouso e fisioterapia, de preferência, diária.
A baixa médica transformou-me logo num suspeito, aos olhos do Estado. A nossa elite legisladora, que sabe bem como contorna a lei quando lhe dá jeito, julga-nos a todos pelo seu próprio exemplo. Daí a suspeição! Eu podia utilizar a pequena fortuna com que o Estado me remunera mensalmente (especialmente em situação de baixa) para, por exemplo, ir apanhar sol para a República Dominicana, ou, pelo menos, para deambular pelos centros comerciais, a comprar as prendas de Natal... Sendo suspeita de defraudar o meu empregador, sou sujeita a uma medida de coacção: termo de identificação e residência. Medida leve, um degrau abaixo da prisão preventiva! Tenho de me manter em casa durante dois períodos no dia, em três dias da semana, para a minha entidade empregadora mandar fazer a verificação domiciliária da minha baixa. Afinal, quase não tenho tempo para fazer a fisioterapia! As caminhadas recomendadas pela fisioterapeuta são para esquecer... e já nem falo das compras domésticas, quem quiser que as faça... Será que posso pedir para me porem, em alternativa, uma pulseira eletrónica no tornozelo? Dava-me mais liberdade e também impedia a minha fuga para a República Dominicana!
A situação de baixa médica torna-nos suspeitos, aos olhos do Estado. Eu já olho para o futuro, ansiando pelo momento em que serei premiada com a liberdade condicional... Para ir trabalhar, claro!
E tiveste sorte em não te mandarem para o Estabelecimento de alta segurança de Monsanto, onde está o PILOTO !
ResponderEliminarO Vara já está em TOTAL LIBERDADE. Claro, não se lembrou de arranjar uma qualquer tendinite !...
Um beijo e AGUENTA !
Claro que aguento, mas não posso deixar de considerar estas regras idiotas! Beijinho.
EliminarEis uma característica típica do nosso triste país. Ou do estado (sem maiúscula) que faz triste o país, precisamente porque o coloca em... mau estado.
ResponderEliminarFaça o favor de não desanimar. Boas melhoras, tão rápidas quanto possível.
Parabéns pelo texto.
Obrigada José, realmente mereciamos um estado melhorzinho!
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