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A mostrar mensagens de julho, 2016

História na paragem do autocarro

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Estava calor, na paragem do autocarro. O sol batia diretamente na chapa e, naquele meio de tarde, a paragem parecia uma estufa. Um senhor idoso, de cor escura, sentou-se ao lado de uma senhora idosa, de cor clara. Mas voltou a levantar-se do banco, dizendo que estava demasiado quente. Por razões incompreensíveis, a senhora idosa sentiu-se ofendida e protestou:  - Não estava mais calor, lá de onde veio? O homem retorquiu-lhe sem demoras: - E como é que a senhora sabe de onde é que eu venho? Acha que eu venho de África por causa da cor da minha pele? Eu sou tão português como a senhora! Aposto que a senhora também não sabe de onde vieram os seus antepassados! Houve muitas invasões de povos e a senhora não sabe quais são as suas origens! As pessoas não sabem História! Comecei a ouvir atentamente aquela defesa da História, entrecortada de pronúncias e acentos variados. A senhora tentava desculpar-se com argumentos inúteis, que já iam nos seus antepassados transmontanos, o homem

Em Timor festejou-se a vitória de Portugal

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Depois da emoção que foi, para muitos portugueses, a passagem da seleção portuguesa às meias-finais no Euro 2016, tivemos outro momento não menos emocionante: as imagens dos festejos em Timor Leste. Eram 6h 30 da manhã em Dili quando o jogo finalmente acabou, depois do prolongamento e dos penalties. E dezenas de bandeiras de Portugal sairam à rua, empunhadas por muitos timorenses, a pé ou de motocicleta, que percorreram as ruas de Dili festejando a vitória de Portugal, como se fora a sua própria. Estas imagens são emocionantes, porque nos mostram a ligação emocional que ainda existe entre um território longínquo, parte de um império colonial vasto e disperso, e esta cabeça do império, tantas vezes desorganizada e pouco eficaz.  Penso, por vezes, que sofremos de um qualquer complexo em relação ao nosso passado colonial. Umas vezes, incensamo-lo, exageramos os heroísmos e os nacionalismos. Outras vezes, deixamos pesar mais os complexos de culpa e só recordamos a exploração e a

Na paragem do autocarro

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- Posso sentar-me aqui? Distraída como sempre, tinha-me sentado e colocado a mala ao meu lado, ocupando um assento no banco da paragem. Quem se dirigia a mim, sorrindo, era uma senhora idosa, e eu respondi-lhe também com um sorriso, pondo imediatamente a mala ao colo. - Claro que sim, desculpe, estava distraída. - Se eu não fosse já velhota não lhe dizia nada, mas custa-me estar em pé, sabe? - Mas fez bem, tinha direito ao lugar, nem que tivesse dezoito anos. - Ah, se eu tivesse dezoito anos... E começou a cantarolar: Ai quem me dera, ter outra vez vinte anos... - Isto era um fado do meu tempo. Como é que se chamava a fadista?  A senhora fazia um esforço para se recordar do nome, mas não conseguia. Sei bem o que isso é, também já me vai acontecendo... Voltei a dirigir-lhe um sorriso: - Se tivesse vinte anos, lembrava-se do nome! - Às vezes, até tenho medo de me esquecer do meu próprio nome. Olhe, menina, digo sempre o meu nome e a minha morada aos motoristas dos au