Coro dos Maus Alunos

É o título de uma peça de Tiago Rodrigues proposta pela Culturgest no âmbito do Projecto Panos - Palcos Novos Palavras Novas. É uma peça sobre jovens, para ser encenada e e interpretada por jovens, embora a personagem principal seja um professor de filosofia. Coro dos Maus Alunos é a história de um velho professor de filosofia promotor do espírito crítico dos seus alunos em relação à escola. Acusado de os confundir e de manter com eles relações que ultrapassam os limites de uma relação entre professor e aluno, o professor é submetido a um processo. É uma variação contemporânea sobre o julgamento de Sócrates, ocorrido em plena democracia ateniense e, tal como em Atenas, é pela voz dos alunos que conhecemos, distorcida e interpretada, a vida do velho professor e a história do seu julgamento.
Esta semana, fui ver a peça duas vezes, porque foi encenada por dois grupos de jovens, ambos ligados à Oficina de Teatro que funciona na minha escola. Uns estão a terminar o 9.º ano e é o seu projecto final; os outros estão no Secundário e continuam a trabalhar em Teatro, porque lá ficou o "bichinho" da representação. Apoiados pelo professor de Teatro, estes jovens deram os seus tempos livres e parte das férias ao trabalho de preparação da peça. O resultado foram duas cenografias e interpretações diferentes para um mesmo texto, mas ambas de grande qualidade. Conheço bem todos estes miúdos, muitos deles foram ou ainda são meus alunos e não posso deixar de me emocionar com o seu empenhamento e a sua entrega.
São estes momentos que fazem pensar que a Escola vale a pena e que, além das aprendizagens puras e duras, ainda se conseguem transmitir outras coisas aos alunos. São momentos de partilha com a comunidade, em que os alunos ganham em concentração, procura da perfeição, confiança em si mesmos. Nesta altura em que a Escola atravessa um processo de formatação e burocratização que todos tememos, só posso desejar que, no meio do processo, não sejam estes momentos de trabalho e criatividade os grandes vencidos. Espero que, no meio da floresta de planos, relatórios e portefólios, por entre aulas assistidas e reuniões intermináveis, ainda deixem aos professores tempo e motivação para trabalharem com os seus alunos.

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